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sábado, 5 de outubro de 2013

ENTREVISTA - RUBENS EWALD FILHO: UM HOMEM DE CINEMA


Rubens Ewald Filho sabe de tudo de cinema. Apaixonado pela sétima arte desde a infância, ele já assistiu mais de 30 mil filmes, é considerado o maior crítico e especialista em cinema do Brasil e um dos maiores do mundo, tendo já publicados vários livros sobre o assunto. Nessa entrevista ele se define como um homem de cinema que procura difundir cada vez mais sua paixão pela arte cinematográfica. Rubens também é formado em jornalismo, já foi ator e já trabalhou em diversos veículos de comunicação e em várias emissoras brasileiras. Como roteirista, ele escreveu alguns filmes e novelas, entre elas, a famosa "Éramos Seis" (1977) com Sílvio de Abreu na Tupi. Atualmente ele também é diretor de teatro e está com vários projetos em andamento. Rubens não para nunca! Nessa entrevista ao blog ele fala um pouco sobre sua carreira como crítico, roteirista, diretor, enfim, fala um pouco de tudo. Como grande admirador de seu trabalho, fico feliz de publicar essa entrevista com Rubens e tenho certeza que vocês vão adorar saber mais sobre ele.

SUPER TV E MAIS! - Você é considerado um dos maiores críticos de cinema do Brasil e do mundo. Quando surgiu a sua paixão pelo cinema? 

RUBENS EWALD FILHO - Nasci em Santos. Fui uma criança muito reprimida, nunca tive uma amiguinho, nunca brinquei na rua. De tal forma que tenho a infância bloqueada, até o nascimento de um irmão  nove anos mais novo. Só lembro dos filmes que assisti e anotei num caderno até hoje, por isso que sei que vi mais de trinta mil filmes. Na verdade, 33.608. Então o cinema foi companheiro da minha solidão, meu professor, meu aprendizado, minha diversão, minha válvula de escape, numa palavra: minha paixão... Assim formou-se também o cara que sou hoje, solitário, discreto. Mas também  grandão porque eu fiz natação e o esporte me ajudou muito na vida... deu disciplina. Tive a sorte de ter pai e mãe bons, ainda que contra o que eu fazia. Mas foram mudando e eu sempre fui determinado, ouvia e fazia exatamente o que queria e achava certo.

SUPER TV E MAIS!  Entre os milhares de filmes que você já assistiu, consegue escolher um preferido? 

RUBENS EWALD FILHO - "2001, Uma Odisseia No Espaço" de Kubrick e "Fellini Oito e Meio".


"2001" e "Fellini", os dois filmes preferidos de Rubens

SUPER TV E MAIS!  Cite alguns filmes que você considera obrigatórios para qualquer cinéfilo, seja pela qualidade técnica ou pela contribuição dada à história do cinema. 

RUBENS EWALD FILHO - Meu caro são tantos.... Use a lista dos críticos estrangeiros, não concordo com muita coisa... mas vai ajudar seus leitores:

Os 50  melhores pela critica

      1.  Um Corpo que Cai/Vertigo (Hitchcock, 1958)
2. Cidadão Kane/Citizen Kane (Welles, 1941)
3. Era uma vez em Tóquio/ Tokyo Story (Ozu, 1953)
4. A Regra do Jogo /La Règle du jeu (Renoir, 1939)
5. Aurora/ Sunrise: a Song for Two Humans (Murnau, 1927)
6. 2001, uma Odisséia no Espaço/2001: A Space Odyssey (Kubrick, 1968)
7. Rastros de Ódio /The Searchers (Ford, 1956)
8.  Homem com uma Camera/Man with a Movie Camera (Dziga Vertov, 1929)
9. A Paixao de Joana D´arc/The Passion of Joan of Arc (Dreyer, 1927)
10. Fellini Oito e Meio /8 ½ (Fellini, 1963)
11.Encouraçado Potemkin/ Battleship Potemkin (Sergei Eisenstein, 1925)
12. A Atalante/ L’Atalante (Jean Vigo, 1934)
13. Acossado/Breathless (Jean-Luc Godard, 1960)
14. Apocalypse Now (Francis Ford Coppola, 1979)
15.  Pai e Filha /Bashun/ Late Spring (Ozu Yasujiro, 1949)
16. A Grande Testemunha/Au hasard Balthazar (Robert Bresson, 1966)
17. Os Sete Samurais/Seven Samurai (Kurosawa Akira, 1954)
18. Quando duas mulheres Pecam/Persona (Ingmar Bergman, 1966)
19. O Espelho/Mirror (Andrei Tarkovsky, 1974)
20. Cantando na Chuva/Singin’ in the Rain (Stanley Donen & Gene Kelly, 1951)
21. A Aventura/l’avventura (Michelangelo Antonioni, 1960)
22. O Desprezo /Le Mépris (Jean-Luc Godard, 1963)
23. O Poderoso Chefão /The Godfather (Francis Ford Coppola, 1972)
24. A Palavra/ Ordet (Carl Dreyer, 1955)
25. Amor à Flor da Pele/ In the Mood for Love (Wong Kar-Wai, 2000)
26. Rashomon/Idem  (Kurosawa Akira, 1950)


"Um Corpo Que Cai" (1958), "Cidadão kane" (1941) e "Psicose" (1960), três clássicos do cinema

27. Andrei Rublev/Idem  (Andrei Tarkovsky, 1966)
28. Cidade dos Sonhos/Mulholland Dr. (David Lynch, 2001)
29. Stalker/Idem  (Andrei Tarkovsky, 1979)
30. Shoah/Idem  (Claude Lanzmann, 1985)
31. O Poderoso Chefão Parte II- The Godfather Part II (Francis Ford Coppola, 1974)
32. Taxi Driver/Idem  (Martin Scorsese, 1976)
33. Ladrões de  Bicicleta/Bicycle Thieves (Vittorio De Sica, 1948)
34. A General /The General (Buster Keaton & Clyde Bruckman, 1926)
35. Metropolis /Idem (Fritz Lang, 1927)
36. Psicose/ Psycho (Alfred Hitchcock, 1960)
37. Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce 1080 Bruxelles /Inedito comercialmente (Chantal Akerman, 1975)
38. Sátántangó / Inédito comercialmente (Béla Tarr, 1994)
39. Os Incompreendidos/The 400 Blows (François Truffaut, 1959)
30. A Doce Vida/La dolce vita (Federico Fellini, 1960)
41. Viagem Pela Italia ou Romance no Itália/Journey to Italy (Roberto Rossellini, 1954)
42. A Canção da Estrada/Pather Panchali (Satyajit Ray, 1955)
43. Quanto mais Quente Melhor/ Some Like It Hot (Billy Wilder, 1959)
44. Gertrud /Idem (Carl Dreyer, 1964)
45. O Demonio das Onze Horas/ Pierrot le fou (Jean-Luc Godard, 1965)
46. Play Time /Idem (Jacques Tati, 1967)
47. Close-Up (Abbas Kiarostami, 1990)
48. A Batalha de Argel /The Battle of Algiers (Gillo Pontecorvo, 1966)
49. Histoire(s) du cinéma (Jean-Luc Godard, 1998)
50. Luzes da Cidade/ City Lights (Charlie Chaplin, 1931)
51. Contos da Lua Nova /Ugetsu monogatari (Mizoguchi Kenji, 1953)
52. La Jetée (Chris Marker, 1962).

SUPER TV E MAIS!  O que você acha da famosa lista dos 100 melhore filmes de todos os tempos do AFI (American Film Institute)? Concorda com ela? 

RUBENS EWALD FILHO - A do AFI é só de filmes americanos e eles não são muito brilhantes e espertos... São moralistas e os franceses é que lhes ensinaram tudo... Ainda assim o AFI fez um esforço para por ordem na casa, hehe, mas você viu que a premiação deles não pegou...

SUPER TV E MAIS!  Como você analisa o atual momento do cinema nacional? Por que os filmes brasileiros são tão pouco assistidos em comparação com os filmes americanos? 

RUBENS EWALD FILHO - Isso acontece em qualquer lugar do mundo, os americanos, os filmes, digo, sempre dominam. Até que o nosso não está assim tão mal... Veja o "Elysium", um filme americano bem discutível mas que fez sucesso aqui graças a presença do Wagner Moura ... Fiquei contente por ele, prova de seu prestigio.   


Filme "Elysium", com o brasileiro Wagner Moura no elenco

SUPER TV E MAIS!  Você é formado em jornalismo e também é roteirista, tendo escrito já algumas novelas e filmes. Sua novela de maior sucesso é "Éramos Seis" (1977) em parceria com Silvio de Abreu. Como surgiu a oportunidade de escrever para a televisão e quais as principais lembranças que você guarda dessa novela? 

RUBENS EWALD FILHO - Hoje é considerada obra prima e consagrada assim... Não surgiu a oportunidade, Silvio e eu tínhamos escrito quatro roteiros juntos e ele sugeriu que fôssemos a TV Tupi propor projetos... Ele estava filmando e quem me levou foi a Irene Ravache... Assim eles gostaram e acabaram aceitando... E deu certo... Cada um de nós escrevia 15 dias porque ele montava um filme e porque a gente se dava muito bem.


Gianfrancesco Guarniere e Nicette Bruno protagonizaram a versão mais famosa do romance "Éramos Seis", de Maria Jose Dupré, em 1977, na Tupi

SUPER TV E MAIS!  Uma novela de sua autoria que eu sempre tive curiosidade de assistir é "Gina" (1978), pois gosto muito do romance homônimo de Maria Jose Dupré, no qual a novela é baseada. Como foi escrever essa novela e a que você atribui a baixa repercussão?

RUBENS EWALD FILHO - Não teve baixa repercussão. Se você pesquisar, foi grande sucesso de audiência no horário das seis... O problema foi que o chefe de núcleo Herval Rossano brigou com o  diretor e a novela tinha problemas de maquiagem, figurino, coisas assim ... Mas o elenco era unido e até hoje somos amigos.. Não tive problemas pessoais e gostavam do texto. Mas era época de censura rigorosa e ele pouco ou nada tem a ver com o livro original, infelizmente, praticamente só a fase final. Não gosto do resultado porque houve demais interferência, tanto que eu voltei diretamente para a Tupi e fiz "Drácula", a última novela do canal... Mas  fiquei na Globo como crítico de cinema e no Oscar, logo meses depois de "Gina"... Então não foi tao mal... Fiquei 12 anos como crítico...

Christiane Torloni (Gina), Emiliano Queiróz (Fernando), Miriam Pires (Julica) e Fátima Freire (Zelinda) em "Gina" (1978).

SUPER TV E MAIS!  Em 1980 você escrevia a primeira novela brasileira sobre vampirismo, "Drácula", para a TV Tupi. Mas apenas 4 capítulos foram ao ar, porque a emissora estava em crise e fechou as portas. Foi frustrante ter a produção da novela interrompida? 

RUBENS EWALD FILHO - Na verdade foram cinco. E a Tupi ainda os reprisou quando soube que íamos para a bandeirantes com o Avancini, o que me obrigou a reescrever todo o início da novela e para retomar depois do sétimo!!! hehe, loucura... Claro que foi ruim... Mas guardo só boas lembranças da equipe e do elenco da Tupi, que eu adorava e ainda gosto muito.


"Drácula" (1980, Tupi) mudou de nome quando foi exibida na Bandeirantes no mesmo ano

SUPER TV E MAIS!  "Drácula" foi feita na Bandeirantes no mesmo ano, mas com outro título: "Um Homem Muito Especial". Você fez muitas mudanças na história com a troca de emissora? Ficou satisfeito com o resultado?

RUBENS EWALD FILHO - O projeto era de Walter Avancini, que foi quem me chamou para escrever... Quando não deu certo, ele foi chamado para ser diretor geral da Bandeirantes, assim teve moral de nos levar... Claro que tive que reduzir a novela e personagens em um terço, que era ainda menos grana que a Tupi. O problema é que eu tinha ganhado bolsa do governo americano e teria que viajar no meio. Foi o que sucedeu... Porque mudou minha vida a viagem... Fui aos festivais, estúdios, conheci kurosawa, Truffaut, Godard e assim por diante, deixei de ser caipira, Eheheh!


Abertura de "Gina"

SUPER TV E MAIS!  Por que você deixou meio de lado a sua carreira de roteirista no cinema e na televisão? Pensa em escrever outras novelas? 

RUBENS EWALD FILHO - Simplesmente porque não fui convidado. A imagem de crítico e do Oscar ficou forte demais. Depois nunca me ofereci ou propus projetos... Se quiser que me chamem. Agora o trabalho de escrever novela é desumano ...  


Túnel do Tempo do "Vídeo Show" sobre "Gina"

SUPER TV E MAIS!  Atualmente você também é diretor de teatro. Há projetos de novas peças? 

RUBENS EWALD FILHO - Sim, nos últimos tempos tenho tido falta de sorte que não conseguimos dinheiro para montar projetos mais ambiciosos. Também esbarrei em gente mal caráter e desonesta. Agora retomei e tenho no momento três projetos em andamento. Também fui chamado para ser ator, mas até o momento sempre recusei.



SUPER TV E MAIS!  Para terminar, agradeço sua gentileza por conceder essa entrevista. Deixe sua mensagem para os leitores do blog. 

RUBENS EWALD FILHO - Hoje nem me acho só um crítico de cinema, mas um homem de cinema... Faço festivais, curadoria, escrevo livros, enfim... Gravei agora programa novo para a HBO... Tudo dentro de uma proposta de amor ao cinema, de cada vez difundir mais essa arte e paixão.

- Clique aqui para saber mais sobre "Gina" (1978) no site Memória Globo;

- Clique aqui para assistir vários capítulos de "Éramos Seis" (1977) no site da Cinemateca Brasileira;

- Clique aqui para entrar no blog oficial de Rubens Ewald Filho.




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